"Por que Deus, o criador de tudo que existe no universo, ao dar existência ao ser humano, ao tirá-lo do Nada, destinou-o a defecar? Teria Deus, ao atribuir-nos essa irrevogável função de transformar em merda tudo o que comemos, revelado sua incapacidade de criar um ser perfeito? Ou sua vontade era essa, fazer-nos assim toscos? Ergo, a merda?" (Fonseca, 2001:7)
Não poupando o cheiro da lembrança de algum dia da sua vida, é assim que começa um dos meus livros preferidos de Rubem Fonseca. O conto Copromancia encabeça o livro Secreções, excreções e desatinos e traz, digamos, a peculiaridade do corpo a qual quase ninguém gosta de falar sobre.
A poética do autor é fenomenal. Se considerarmos a temática, fica ainda melhor. O indivíduo é jogado na história como um ser qualquer, predisposto e predestinado a se relacionar com o seu corpo e com outros corpos e a aceitar aparentemente por livre e espontânea personalidade ao que sempre é desconsiderado nas relações ditas "normais".
A utilização de recursos como a semiologia e a ironia fazem o texto ainda mais atrativo. A personagem vai desde observar suas fezes com repugnância até comprar uma polaroid, uma balança de precisão e mandar trocar o sanitário "cuja bitola afunilada constringia as fezes" (p. 10).
O livro é um completo examinar da fisiologia. A particularidade dos contos causa um turbilhão de sensações a quem tem a oportunidade de lê-los. Não convém comentar mais a respeito do conto e nem do livro. Para quem se sentir à vontade em saber sobre secreções, excreções, desatine-se.
Adoro Fonseca e este livro é mesmo de impressionar.
ResponderExcluirÓtima recomendação :)
Beijo
É muito muito bom mesmo. ;)
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